Criança entende melhor que a gente!

     Em meio a lágrimas na janela do carro meu filho disse: "mãeee, eles me deram meu travesseiro e me mandaram para casa". Olha, se tem algo que dói no coração da gente é quando um filho sofre; por vezes parece que estamos sendo apunhalados com aquela enorme faca de filmes de terror. Pois é, ontem me senti assim e essa frase reverbera na minha cabeça e me aperta o coração.

    Em função da " pandemia forever" ontem foi dia de benção dos animais , entrega de lembrança pelo dia das crianças, tudo nos sistema drive-thru pois  os cuidados ainda devem ser mantidos e penso que isso ainda vai longe. 

    Era para ser tudo uma festa e já na chegada ao ginásio a primeira parada e a benção na nossa mascote Cindy que habita todos os cômodos da casa e por vezes me rouba lugar na cama;  curva à direita e nova parada, desta vez uma parada para entregar doações de brinquedo que o pequeno definiu doar para os carentes. 

    Andamos mais um pouco e nova curva à direita com última parada e, além da medalha de São Francisco, um frasco de álcool em gel entregue pela profe,que até o momento foi mais virtual que presencial,  o sorriso de alegria produziu lágrimas nele, nas profes e em mim. Nesse momento recebi o travesseiro entregue no início do ano, me me foi alcançado pela janela da frente para facilitar e já naquele instante coloquei sobre o banco da frente.

    Saindo daquele passada rápida passamos no hospital para mostrar os presentes à mamãe que estava de plantão. Muita alegria mostrando medalha, álcool gel, Cindy e de repente um choro e a frase  "mãeee, eles me deram meu travesseiro e me mandaram para casa". Confesso que não sei como cheguei em casa pois saí daquele local e era como se eu estivesse voando. Vários sentimentos, vários questionamentos e uma dor enorme que hoje eu entendendo ser a prova do verdadeiro amor que podemos sentir por alguém na vida.

Andei mais duas quadras e a pandemia política a mil, cada um com suas soluções, algumas realmente novas mas a maioria disfarçada. Gente prometendo fazer pelos outros coisas que talvez não façam pela sua família e, para mim , está tudo bem pois entendo que a luta pela sobrevivência faz parte da vida e que cada um tem seu conjunto de crenças e valores.

    Masss, cada vez que eu olhava no retrovisor e fintava o meu pitoco me perguntava se era justo fazer o que fizeram conosco e ainda estão fazendo? Num raio de 300 metros vivenciei dois mundos, aquele que continua cuidando e respeitando e a galera das bandeiras, do corpo-a-corpo e até da roda de chimarrão. Alguém sempre será o culpado, o errado, até porque é muito mais fácil depositar no outro a culpa pelos erros oriundos das nossa ações equivocadas.

    As vezes falamos que moramos num país enorme, cheio de contrastes, quando na verdade talvez a nossa cidade seja semelhante em contrastes. As bandeiras trocam de mãos a cada eleição, os candidatos de partidos, as causas passam a serem defendidas, ou trocadas, ou esquecidas pois no fundo o ego e o conjunto de interesses fala mais alto. Até poucos dias a preocupação era pelo fique em casa e se cuide; hoje é de fazer a campanha de ver gente de se aproximar.

    A questão é que nesse ano que virou o mundo de todo mundo estamos carentes de uma aproximação de verdade, onde não exista outro motivo que não o bem-estar das pessoas de maneira verdeira e não interesseira. Estamos cansados de morar na corte e ser o bobo; não ouso falar em palhaço pois estaria ofendendo o palhaço ao fazer essa comparação haja vista que ele é o mais belo e singelo exemplo da vida leve, singela e simples de viver.

Falamos que as crianças são o futuro mas não podemos esquecer que futuro é colheita e, portanto, infância é momento de plantio. Não tenha dúvida que o que plantamos esse ano vamos colher mais adiante porém me preocupa como será o desenvolvimento dessa semente. Trocamos a chuva branda por tempestades e a água na sua fúria em chuva  nos tirou muitos nutrientes; ainda temos tempo de fazer as correções mas não tenha dúvida que o cuidado terá de ser redobrado.

    Não podemos dizer que estão brincando conosco ou que brincaram conosco e com nossa saúde física e emocional pois brincar é um ato nobre, envolve pureza e leveza de mente e alma algo que talvez esteja faltando por aí. Costumo pensar que a maneira como somos em casa tem reflexo direto na maneira como somos fora de casa. Todos erramos, todos temos direito de melhorar, de evoluir: contudo é preciso congruência para que a gente não se perca.

    A essas horas meu filho já esqueceu do acontecido mas na memória ficou o registro, assim como a marca da lágrima que escorreu também registrei no meu coração. Pode parecer utopia mas eu sonho com um mundo mais justo e perfeito mas para isso a grande mudança está no nosso interior.Muitas vezes mudar dói pois implica reconhecermos fraquezas, menores habilidades e principalmente sermos resilientes; contudo , quando a intenção é verdadeira o fluxo se encarrega. 

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Comentários

  1. Que lindo texto Daniel, cheguei a visualizar a carinha triste do nosso pequeno e gigante de coração Nicolas 😍, quando falasse que contou pra a mamãe, me entregaram o travesseiro, e me mandaram pra casa 😞

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