Sobre a série "TODO DIA A MESMA NOITE"
A vida é mesmo algo interessante. Quinta-feira
a noite levei nosso pequeno de 7 anos a uma festa de aniversário em uma casa de
festas infantil. A festinha “infantil” era das 19h as 23h, que tal? Chegando em
casa o convite de minha amada foi para assistir “ Todo dia a mesma noite” no
NETFLIX. Aceitei o convite na ideia de seguir fazendo meus afazeres no computador
mas foi inevitável, na condição de pai, deixar de assistir, com o devido
respeito que merece, a série em questão.
Aqui na minha cidade, Santa Cruz do Sul,
tivemos perda e talvez meu primeiro sentimento foi de tristeza de, até o
momento, nunca ter abraçado o professor Nestor e sua esposa pela passagem ao Oriente
Eterno do seu amado filho. Assistindo a série, não tenho dúvidas que o filho de vocês, Sr Nestor, embasado no seu
espírito esportivo e com toda a formação recebida em família foi um dos que, apesar
da partida, ficou e lutou bravamente para salvar o máximo de amigos,
Enquanto assistia a série que buscou retratar o acontecido,
agradecia constantemente ao Grande Criador meu filho estar numa festa infantil
e, ao mesmo tempo, uma angústia tomava meu coração na ansiedade de chegar o
momento de buscá-lo e saber que tudo estava bem.
Confesso que entendendo que a vida é um
constante julgar mas também já entendi que a tal justiça no julgar é algo
extremamente delicado pois, no final, o instinto primitivo da sobrevivência,
acaba por interferir no julgamento.
Jamais conseguirei sentir, e assim o
espero, com a graça Divina e o ciclo normal da natureza, ou sequer passar o que
todas as famílias passaram no caso da Boate Kiss, Entretanto, entendo que compaixão não se
trata de fazer e ou sentir pelo próximo assim
como gostaria quando fosse comigo mas sim sentir e ou fazer pelo próximo aquilo
que precisa ser feito.
A série a que me referi no início desse
escrito, não tenho dúvidas, abrange, apesar de muita vivaz, pouca porcentagem e
magnitude do sofrimento e tristeza pela qual todos passaram e ainda passam e
vivenciam no seu dia-a-dia.
Além do sofrimento, retrata o mundo
atual e, de maneira muito intensa, o país em que vivemos atualmente. Entenda
que não me refiro a ideologias partidárias, eleições e descrédito nas
instituições sejam legislativas, executivas ou judiciárias como no caso em
questão.
Minha dúvida vai mais além, extrapola
essa esfera e me leva a várias perguntas:: Somos todos animais, ok? Entendemos
que nós SERES HUMANOS, somos racionais, ok? Entendemos que por essa razão somos
diferentes, talvez superiores em relação ao restante, ok? Então, até que ponto
deixamos o nosso “instinto de sobrevivência” interferir nas nossa relações de vida
diária.
Longe de mim julgar, pois não me
compete, mas penso que a série não possa ser blasfema caso contrário será
retirada do ar. Penso que ela seja apenas um relato daquilo que tem sido a
constância no nosso país e que, na atualidade, seja um retrato fiel daquilo que
está acontecendo em nosso país, ou seja, o descrédito nas pessoas e a
imparcialidade dos “poderes e suas
competências” seguidos de uma incerteza de que as leis, a justiça e a
verdade seja defendidas e cumpridas na sua essência.
Quando interesses individuais se
sobrepõem ao coletivo e ao bem-estar da comunidade o caos se instala. Não
existe cidade, estado e ou país que durma tranquilamente sabendo que seus
líderes não se preocupam verdadeiramente com eles e apenas consigo.
Entenda que minha fala não é um
discurso, muito menos a defesa de uma ideologia e sim, apenas, o sentimento de
um pai de família que experimenta diariamente ensinar ao seu filho o
significado de caráter, valores, ética e compaixão. Hoje entendo quando meus
pais, quando da minha juventude, adoravam que eu fizesse algo com meus amigos
em casa ao invés de sair.
Eram 11h quando busquei nosso pequeno e
o levei para dormir na casa da vovó pois está naquele lance de curtir as
férias. Voltei para casa, tomei um banho e fui dormir, ou melhor, tentar
dormir. Fiquei pensando no dormir dos pais de tantos jovens que ainda esperam
uma resposta e na morosidade e subterfúgios do sistema que muitas vezes leva os
fatos, com o passar do tempo, a serem esquecidos, bem como a que as devidas responsabilidades
sejam apontadas.
Parece estranho, mas pensando na série,
em tudo que aconteceu e em tudo que por hora estamos vivendo, percebo que o
egoísmo das pessoas, a ganância e a falta de compaixão permanecem em alta no
ranking de motivos para a infelicidade. Genteeee, estamos em 2023, quisera em
2013 a velocidade e a voracidade da justiça fosse a mesma de janeiro desse ano.
A inversão de valores bate a nossa porta pois quebrar prédios causa maior dano e
indignação do que 242 pessoas mortas.
Dizem que na vida precisamos de um
grande propósito e o meu é poder servir e ajudar o maior número de pessoas a
levarem uma vida mais leve, como mais amor, paz e compaixão. Tenho me dedicado
diariamente nas minhas ações a compartilhar, a estimular e praticar essa maneira
de viver. Confesso que tem horas que parece difícil pois parece que estou
“remando contra a maré” e, pior que isso, tem horas que sou invadido por
pessoas e seus pensamentos me questionando como seu eu estivesse errado ou
tentando me convencer a entrar no time dos que já desistiram.
Percebo que em outrora já tive muita
rigidez emocional o que me levou a experimentar vivências não muito agradáveis,
meus ex-alunos que o digam...kkkkk....mas nunca é tarde para mudar a maneira de
pensar, mudar a maneira de sentir e mudar a maneira de agir. Depois que percebi
que a maneira como eu me conduzia não era legal entendi que o que eu realmente
queria necessitava mudança interna. Perdoei-me por ser como fui e descobri quem
e como queria ser. A luta é diária pois parece que aqueles valores base das
relações humanas estão esquecidos pois sabemos que existem.
Cada vida é única e, assim sendo, o
papel de cada ser humano é único. Enquanto não entendermos que o amor constrói
e a raiva destrói, que o partilhar constrói e o egoísmo destrói, que a verdade
constrói e a mentira destrói, que ter mais não te faz ser mais e por aí vai, a
missão de termos um mundo mais justo e perfeito fica longe.
Precisamos entender que a nossa ”energia”
movimenta isso tudo e que somos 100%responsáveis por ele, bem como que somos
responsáveis pelo próximo também na medida que convivemos em comunidade. Assim,
é impossível não cobrar para que as responsabilidades sejam encontradas, que as
devidas penalidades sejam atribuídas. Entretanto, penso que além disso as
regras sejam revistas. Precisamos urgentemente rever não apenas as “regras do
jogo vida em sociedade” como também as “ regras do julgamento das infrações”.
Entendo e penso que tudo deva ser justo,
mas no momento pelo qual estamos passando penso, por vezes, parecer que as
regras , lá antigamente, foram montadas para “esgotar” todas as possibilidades
de injustiça sendo que , no entanto, acabaram por favorecer e abrandar o
acusado em detrimento do acusador. No meu parco conhecimento talvez essa seja
uma justificativa que faça existir a necessidade de reforma no código utilizado
para tais momentos.
O maior julgamento acontece com o
coração; ele é individual, nunca coletivo, mas sua consequência reflete no
todo. Por vezes o coração nos leva a ações inesperadas que acabam atrapalhando
a escolha do melhor caminho mas em momento algum ele pode impedir que o caminho
escolhido seja o correto.
Terminei minha noite de quinta fazendo
uma oração pois sei que ela caminha no ar e, dessa forma, chegou a todos os
lares que sofreram e sofrem com vidas perdidas. A culpa sempre estará em alguém
ou em algo mas o perdão, ahhh esse tal difícil perdão, sempre estará na gente.
Existem as leis dos homens ( código
civil) e as leis de DEUS ( 10
mandamentos). Meu convite é para que a gente faça uma reflexão e perceba que
talvez menos seja mais desde que respeitemos e sigamos o proposto. Se todos
somos iguais precisamos viver de maneira mais igual.
Nada é por acaso e confesso que não
consigo imaginar que alguém deliberadamente tenha dito vou matar. Entretanto,
quando assumimos e realizamos determinadas ações somos sempre cientes dos
riscos e, assim sendo, assumimos responsabilidades em maior ou menor proporção.
Independente do grau de responsabilidade, direta ou indiretamente, entendo que
não deveria ter exceção de quem responde, mas enquanto tivermos um sistema que
favorece as exceções estaremos vivendo esses momentos.
Um dia, não tenho dúvida, vamos todos
nos encontrar e então o “julgamento dos julgamentos” vai acontecer. Até lá, me
resta agradecer a todas as famílias envolvidas pois, mesmo em meio a toda
tristeza, batalharam e batalham, não por condenações e sim por mostrar que é
preciso regrar, organizar e alinhar a maneira como nós seres humanos devemos
viver e conviver. Agradeço pelo meu
pequeno de 7 anos pois a festa onde ele foi era numa casa adaptada às
regras criadas oriunda da luta pela justiça. Sinto que a batalha de vocês não é
somente por vocês , mas também por mim, pelo vizinho e por um mundo mais humano
e fraterno. GRATIDÃO, estamos juntos em oração.
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